Pediculoses
A pediculose é uma doença causada por Pediculus humanus capitis, um ectoparasita que desenvolve todo o seu ciclo de vida no ser humano, alimentando-se de sangue. Mas também pode ser causada pelo P. humanus corporis (piolho do corpo) e P. pubis (Phthirus pubis) (piolho púbico).
Epidemiologia. A pediculose capitis é uma doença muito comum da infância, que tem distribuição mundial. A prevalência está aumentando, sendo maior em meninas e mulheres, acometendo mais crianças brancas do que negras. Não há associação entre os piolhos da cabeça e má higiene, ou baixo status socioeconômico.
O P. humanus corporis geralmente infesta pessoas com má higiene, que vivem em locais apertados, em condições de lotação (como quartéis militares), e aquelas que têm um baixo status socioeconômico.
Etiologia. A pediculose capitis é disseminada pelo contato direto com uma pessoa infestada. Fômites, como roupas, chapéus, pentes, ocasionalmente podem desempenhar um papel na propagação da infestação. Os fatores que predispõem incluem idade jovem, sexo feminino, raça branca ou asiática.
O P. humanus corporis não vive no corpo humano, uma vez que ele prefere temperaturas mais frescas. Vive em roupas, rastejando no corpo humano apenas para se alimentar, predominantemente à noite. As fêmeas colocam 10-15 ovos por dia nas fibras da roupa, principalmente próximo das costuras.
As grandes garras do P. pubis permitem que eles fiquem aderidos aos pelos púbicos mais grossos nas áreas da virilha, perianal e axilar. A infestação geralmente é disseminada como uma doença sexualmente transmissível (DST), com 30% dos indivíduos infestados podendo apresentar outra DST concomitante, por exemplo, HIV, sífilis, gonorreia, clamídia, herpes, verrugas genitais.
Manifestações clínicas. O prurido é o sintoma mais comum da infestação, sendo intenso à noite. As áreas mais afetadas incluem couro cabeludo, regiões retroauricular e occipital. O prurido intenso pode causar infecção secundária por bactérias. No entanto, a infestação dos piolhos da cabeça pode ser assintomática, especialmente se for a primeira e se for leve.
Os pacientes infestados com P. corporis apresentam prurido noturno, particularmente nas regiões axilar, tronco e virilha, quando os piolhos se movem da roupa para o corpo indo se alimentar.
Os adultos infestados com P. pubis geralmente são sexualmente ativos e têm envolvimento na virilha e no corpo. O prurido na virilha, axila, cílios ou sobrancelhas, pode ajudar a diferenciar a infestação de P. pubis da infestação de piolhos da cabeça ou corpo. Os pacientes podem apresentar pápulas, indicando reações à mordida.
Diagnóstico. O diagnóstico de qualquer tipo de pediculose é baseado na observação de ovos (nits), ninfas ou piolhos maduros. O diagnóstico definitivo de infestação ativa requer a detecção de piolhos vivos.
Acredita-se que o achado de mácula cerúlea seja patognomônico para infestação com P humanus corporis. Elas são máculas azul-acinzentadas, que representam a descoloração da pele devido à mordida do inseto.
Diagnóstico diferencial. O diagnóstico diferencial inclui: escabiose, pitiríase capitis (caspa), piodermite do couro cabeludo.
Tratamento. O tratamento da pediculose envolve medicamentos e medidas de controle ambiental. Todas as pessoas infestadas em uma casa e seus contatos próximos devem ser tratadas simultaneamente. Já que a exposição à fômites pode resultar em infestação, recomenda-se que os itens usados pelo paciente 2 dias antes do medicamento sejam lavados em máquina com água quente e secos com ar quente, pois os piolhos e ovos são eliminados após 5 minutos de exposição a temperaturas > 53,5 ° C.
Pode-se usar shampoo de permetrina (1%), deixar agir por 5-10 minutos e enxaguar. As lêndeas devem ser retiradas com pente fino. O tratamento tópico no piolho púbico é aplicado a todas as regiões infestadas suspeitas, áreas genitais e anais, coxas, tronco, axilas, bigodes e barba, evitando contato sexual até que tenham sido tratados com sucesso. Os anti-helmínticos orais, incluindo ivermectina (0,2 mg/Kg ou 6 mg para cada 30Kg e não deve ser feita em crianças com menos de 15 Kg de peso corporal) e albendazol (400 a 800 mg em dose única e repetido com 7 a 10 dias), foram considerados eficazes contra a infestação de piolhos. A ivermectina oral também foi usada com sucesso para tratar piolhos púbicos. A administração deve ser repetida em 7-10 dias para eliminar os piolhos que sobreviveram ao primeiro tratamento.
O uso de medicamentos geralmente é desnecessário para eliminar os piolhos do corpo, pois eles estão no vestuário e roupas de cama, e não nas pessoas. Nesse caso, devem-se tratar os sintomas do paciente e recomendar a substituição ou descontaminação das peças de vestuário e roupas de cama afetadas, através da lavagem com a água quente.