Eritema Ab Igne
26/03/2025
Eritema ab igne (EAI), latim para "vermelhidão do fogo" (ab Igne = from the fire), é uma condição de pele causada por exposição crônica e repetida a calor moderado ou radiação infravermelha. Frequentemente denominada "síndrome da pele tostada", ela se manifesta como uma erupção cutânea reticular (semelhante a uma rede) distinta, ocasionalmente eritematosa e telangiectásica que progride para hiperpigmentação. Geralmente associada a hábitos relacionados ao trabalho ou a atividades pessoais. Mas, não é uma queimadura.
Epidemiologia. Atualmente, esta condição tende a ocorrer com mais frequência, sendo associada a uma variedade de instrumentos modernos, incluindo travesseiros aquecidos, aquecedores, cobertores térmicos, bolsas de água quente, laptops no colo e smartphones, exposição ocupacional (por exemplo, chefs, joalheiros). Uso frequente de saunas ou lareiras. Além disso, a lombalgia crônica e o consequente uso repetido e prolongado de calor localizado para aliviar esse sintoma leva a maior incidência de eritema ab igne nessa área. Indivíduos com dor crônica (por exemplo, artrite) e com neuropatia ou diabetes (sensibilidade reduzida ao calor) estão em maior risco.
Fisiopatologia. A exposição prolongada à radiação infravermelha ou ao calor moderado leva à vasodilatação reticulada, que corresponde ao padrão do plexo venoso do processo da doença com danos nos vasos sanguíneos superficiais e subsequente deposição de hemossiderina. O calor danifica os capilares, levando ao vazamento de hemácias, e a quebra da hemoglobina resulta em hemossiderina, causando a descoloração amarronzada. Outras mudanças incluem alterações nas fibras elásticas, atrofia epidérmica e acumulação de melanina na derme.
Manifestações clínicas. Inicialmente, a lesão é eritematosa e às vezes caracterizada por mudanças superficiais (atrofia, xerose, telangiectasia). Porém, depois de repetidas exposições ao calor, desenvolve-se a hiperpigmentação reticulada clássica azul, roxa ou marrom. Geralmente é assintomática, embora alguns pacientes relatem prurido na fase aguda. Pode ocorrer em qualquer local, sendo mais frequente a distribuição assimétrica. As alterações precoces da pele normalmente desaparecem espontaneamente dentro de várias semanas a meses, após a remoção da fonte de calor da pele. No entanto, lesões de longa duração, podem estar associadas à hiperpigmentação permanente.
A exposição crônica à radiação infravermelha pode resultar em mudanças semelhantes às observadas com radiação ultravioleta. O carcinoma pode se desenvolver a partir de queratinócitos displásicos abrigados dentro da hiperpigmentação reticulada. Foram relatados em pacientes após exposição crônica à radiação infravermelha, ceratose térmica e carcinoma de células escamosas.
Em resumo:
Estágio inicial: vermelhidão transitória, semelhante a renda.
Estágio crônico: hiperpigmentação marrom-avermelhada com padrão reticulado.
Diagnóstico. O diagnóstico é baseado na história e quadro clínico, uma vez que as alterações histológicas não são específicas. Portanto, a biópsia deve ser considerada apenas em casos selecionados e para descartar malignidade se as lesões ulcerarem ou engrossarem. Pacientes com eritema ab igne têm história de exposições repetidas ao calor em temperaturas próximas ao limiar de queimadura (43-47 °C). É importante questionar sobre a exposição ocupacional a fontes de calor, por exemplo, trabalhadores de fundição, padeiros.
Diagnóstico Diferencial. Deve incluir livedo reticular, paniculite, efeitos colaterais de alguns medicamentos (amantadina e memantina), vasculite e linfoma cutâneo de células T.
Tratamento. Nenhuma terapia definitiva está disponível para eritema ab igne. Reduzir ou eliminar a exposição à fonte de calor no início da doença pode reverter a hiperpigmentação. Em casos de curta duração, a resolução completa ocorre com a remoção da fonte de calor. Os casos mais avançados podem responder à tretinoína para melhorar a textura, creme de 5-fluorouracil ou laserterapia (por exemplo, laser de corante pulsado) para pigmentação.
A prevenção é a chave. Educar os pacientes para evitar contato prolongado com fontes de calor. Usar barreiras como toalhas se precisarem usar almofadas de aquecimento.
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