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Erisipela

20/03/2025

A celulite é uma infecção do tecido conjuntivo frouxo que compromete mais a hipoderme que a derme. Caracteriza-se por eritema difuso com bordas mal delimitadas, edema e dor. Celulite severa pode evoluir para bolhas e necrose dérmica, particularmente nas regiões orbitais e periorbitais.

A erisipela é considerada uma celulite superficial que atinge a derme e a parte superior do tecido celular subcutâneo, com proeminente envolvimento linfático e bordas nitidamente delimitadas. Muitas vezes é bastante difícil diferenciar clinicamente a erisipela da celulite. Atualmente, a erisipela e a celulite são consideradas variantes da mesma infecção bacteriana e requerem o mesmo tratamento.

Parece haver um predomínio maior no sexo feminino, sendo mais frequente nos indivíduos acima de 50 anos de idade. Acomete perto de 1 a 2 pessoas em cada 1000 por ano.

Na maioria dos casos de celulite e erisipela a responsabilidade é do Streptococcus pyogenes (estreptococo beta-hemolítico do grupo A), mas também pode ser causada por bactérias dos grupos B, C e G, como S. agalactiae (grupo B) e S. dysgalactiae (grupo C/G). Raramente, pode ser causada por estafilococos. As complicações locais como abscessos e bolhas normalmente são devidas ao estafilococo, incluindo cepas meticilino-resistentes. Em crianças abaixo de três anos a celulite da face pode ser causada pelo Haemophilus influenzae.

Principais características:
Sintomas:
• Lesões cutâneas vermelhas, inchadas, quentes e dolorosas.
• Bordas afiadas e elevadas ao redor da área afetada.
• Bolhas ou úlceras em casos graves.
• Febre, calafrios, gânglios linfáticos inchados e mal-estar.
Locais comuns: pernas, rosto (especialmente bochechas e nariz) e braços. A erisipela glútea é incomum e pode ter recorrência múltipla.
Fatores de risco:
• Lesões de pele (cortes, úlceras, picadas de insetos).
• Linfedema (drenagem linfática prejudicada).
• Obesidade, diabetes ou sistema imunológico enfraquecido.
• Histórico de episódios anteriores de erisipela ou celulite.

É muito importante verificar a “porta de entrada” por onde deve ter penetrado a bactéria. As mais frequentes são: tinea pedis, úlceras, eczemas, psoríase e traumatismo local. Relatos demonstram que muitas vezes, perturbações circulatórias locais, diabetes, alcoolismo e imunodeficiência são os principais fatores predisponentes da erisipela.

Em 85-90% dos casos a erisipela acomete os membros inferiores, mas pode atingir outras partes como a face e o abdome. É frequente o aparecimento abrupto de febre elevada e calafrios, antes mesmo de qualquer outra manifestação. Em seguida, o local atingido torna-se avermelhado, edemaciado, doloroso e com calor local. Pode acontecer a formação de grandes bolhas. Ocorrem adenopatias regionais, manifestações gerais de infecção e leucocitose. A celulite e a erisipela podem se repetir frequentemente levando à chamada elephantiasis nostras por linfedema crônico.

Diagnóstico:
• Avaliação clínica com base nos sintomas e aparência.
• Exames de sangue (glóbulos brancos elevados, PCR).
• Culturas (se houver pus ou feridas abertas) para identificar a bactéria.

Diagnóstico diferencial

Muitas doenças infecciosas, como histoplasmose, leishmaniose, dermatofitose e infusão de agentes quimioterápicos, resultam em erupções semelhantes à erisipela e pseudocelulite. Dermatoses relacionadas à malignidade, como carcinoma erisipeloides, erisipeloides melanomatosum, e dermatoses inflamatórias, como síndrome de Sweet, síndrome de Well e doença de Crohn, apresentam-se como erupção semelhante à erisipela.

Tratamento
O antibiótico de escolha para o tratamento da crise de erisipela é a penicilina. Utiliza-se a penicilina procaína, intramuscular, de 12 em 12 horas por 10 dias. Nos casos mais severos podemos usar a penicilina cristalina, na dose de 50.000 a 100.000 unidades/Kg/dia, por via endovenosa, de 4 em 4 horas. Nos casos de alergia à penicilina, usam-se os macrolídeos como a eritromicina ou clindamicina. Para prevenir ou evitar a recorrência da erisipela, administramos a penicilina benzatina de 21 em 21 dias, durante um a dois anos, ou de forma contínua nos casos de alta recorrência. Terapia anticoagulante deve ser considerada se existe tromboflebite associada.
Cuidados de suporte: Repouso, elevação do membro afetado, compressas frias. Pode ser necessária hospitalização para casos graves ou complicações.

Complicações:
• Formação de abscesso.
• Fasceíte necrosante (rara, mas séria).
• Infecções recorrentes que levam a inchaço crônico (linfedema).

Pacientes que apresentam o primeiro episódio de erisipela mostram sinais de comprometimento linfático pré-existente no outro membro, clinicamente não-afetado. Isto significa que uma disfunção linfática subclínica de ambas as pernas pode ser um importante fator predisponente. Assim, recomenda-se que o tratamento da erisipela deve ser focado não somente na infecção como também nos aspectos linfáticos e, tratamento prolongado para o linfedema é essencial para prevenir as recorrências de erisipela e o agravamento do comprometimento linfático pré-existente. Recorrência após tratamento antibiótico ocorre em 18-30% dos casos.

Prevenção:
• Trate lesões de pele imediatamente.
• Gerencie condições subjacentes (por exemplo, diabetes, pé de atleta).
• Meias de compressão para linfedema crônico.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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5. Mimickers of erysipelas and cellulitis: A narrative review. Gowda SK, Garg S, Behera B, Thakur V, Sahu DK.Indian J Dermatol Venereol Leprol. 2024 Oct 8:1-10.


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