Epidermólise bolhosa
06/03/2025
A epidermólise bolhosa (EB) é um grupo de doenças genéticas raras caracterizadas pela extrema fragilidade da pele e das mucosas, que levam à formação de bolhas e feridas com o mínimo de atrito ou trauma. Essas bolhas podem ocorrer espontaneamente ou após pequenos traumas, como um simples toque ou até mesmo o uso de roupas.
A EB é causada por mutações em genes responsáveis pela produção de proteínas que ajudam a manter a integridade estrutural da pele. Essas mutações são geralmente herdadas de forma autossômica dominante ou recessiva. Podem ser classificadas clínica e histologicamente.
Classificação histológica: Depende do nível de formação da bolha, de acordo com os achados da microscopia óptica e eletrônica.
Há 3 tipos: epidermolíticas com bolhas de localização intraepidérmica (Epidermólise Bolhosa Simples – EBS); juncionais quando a clivagem ocorre ao nível da lâmina lúcida da junção dermoepidérmica (Epidermólise Bolhosa Juncional – EBJ) e dermolíticas quando a clivagem para a formação da bolha acontece na derme papilar na região abaixo da lâmina densa (Epidermólise Bolhosa Distrófica – EBD).
Classificação clínica: Baseia-se na presença ou ausência de cicatrizes e modificações distróficas. As formas intraepidérmicas (EBS) não deixam cicatriz. As formas juncionais (EBJ) apresentam-se com atrofia e as formas dérmicas (EBD) manifestam cicatriz e atrofia. As formas menos agressivas são de herança dominante e as mais graves de herança recessiva.
Sintomas:
• Formação de bolhas na pele e mucosas.
• Feridas que cicatrizam lentamente.
• Cicatrizes e deformidades, especialmente em formas mais graves.
• Problemas dentários, como cáries e perda de esmalte.
• Dificuldade em engolir (disfagia) devido a bolhas no esôfago.
• Unhas deformadas ou ausentes.
Existem descritos 25 subtipos de EB, os principais são:
Epidermólise bolhosa simples (Tipo Kobner) – Inicia-se ao nascimento ou geralmente na infância, localizada principalmente em áreas de traumatismo (mãos, pés, cotovelos e joelhos), podendo acometer a cavidade oral. Dentes, cabelos e unhas são normais. As bolhas acrais são termossensíveis e a afecção melhora com a idade. É autossômica dominante.
Epidermólise bolhosa simples localizada (Tipo Weber-Cockayne) – Inicia-se na infância tardia, em mãos e pés, com bolhas termossensíveis e hiperidrose nestas regiões. É autossômica dominante. Normalmente as bolhas da EBS ocorrem pela formação defeituosa de dímeros entre as queratinas 5 e 14 oriundas de genes mutantes nos cromossomos 12 e 17, respectivamente.
Epidermólise bolhosa juncional generalizada grave letal (Tipo Herlitz) – Inicia-se ao nascimento com erosões e bolhas disseminadas, posteriormente com tecido de granulação hipertrófico perinasal e perioral. Apresenta atraso no crescimento, anemia grave, acometimento oral, esofágico, gastrointestinal, laringeo, gênito-urinário, unhas distróficas ou ausentes e esmalte dentário defeituoso. O óbito ocorre geralmente aos 2 anos de idade. É autossômica recessiva. A mutação leva a uma alteração da laminina 5, componente da lâmina lúcida.
Epidermólise bolhosa distrófica (Tipo Cockayne-Touraine) – Inicia-se geralmente nos primeiros dias após o nascimento, localizando-se principalmente em superfícies extensoras tendendo a cicatrizes às vezes hipertróficas. Pode haver comprometimento de mucosas oral, anal e esofágica, unhas e formação de mília e cicatrizes. Em erosões não cicatrizadas poderá surgir carcinoma espinocelular. É autossômica dominante.
Epidermólise bolhosa distrófica albopapulóide (Tipo Pasini) – Inicia-se ao nascimento com bolhas extensas e generalizadas e aparecimento de pápulas hipocrômicas, não relacionadas às bolhas, principalmente em tronco. Unhas distróficas ou ausentes, acometimento oral leve, milia e cicatriz, podem ser encontrados. É autossômica dominante.
Epidermólise bolhosa distrófica (Tipo Hallopeau-Siemens) – Inicia-se ao nascimento ou na primeira infância com bolhas generalizadas graves. São acompanhadas de severas lesões de mucosa oral, anal, uretral, retal, vaginal, bexiga , intestino delgado, conjuntiva, esôfago com estenose, distrofia ungueal, mília, sinéquias cicatriciais e aparecimento tardio de carcinoma espinocelular em cicatrizes. Pode ser encontrada anemia grave. É autossômica recessiva. Todas as formas de EBD, tanto as dominantes como as recessivas, dependem da mutação de um único gene que codifica a síntese do colágeno tipo VII, formador das fibrilas de ancoragem.
Epidermólise Bolhosa tipo Kindler é o mais raro dos 4 principais tipos de epidermólise bolhosa herdados em um padrão autossômico recessivo. A proteína kindlin-1 é afetada, resultando em fragilidade em qualquer plano da junção dermoepidérmica. Cerca de 400 casos foram relatados em todo o mundo.
Diagnóstico. É baseado em:
• Histórico clínico e exame físico.
• Biópsia de pele para análise microscópica.
• Testes genéticos para identificar mutações específicas.
Tratamento. Não há cura para a EB, mas o tratamento visa aliviar os sintomas e prevenir complicações:
• Cuidados com a pele: Uso de curativos especiais e evitar traumas.
• Controle da dor: Analgésicos e medicamentos anti-inflamatórios.
• Nutrição: Dieta balanceada e suplementos, especialmente em casos de dificuldade de alimentação.
• Fisioterapia: Para manter a mobilidade e prevenir contraturas.
• Cirurgia: Em casos de estreitamento do esôfago ou deformidades graves.
Prognóstico. Varia dependendo do tipo e gravidade da EB. Formas mais leves podem ter um impacto menor na qualidade de vida, enquanto formas graves podem ser debilitantes e potencialmente fatais, especialmente na infância.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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