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Doença de Hailey-Hailey

02/02/2025

A doença de Hailey-Hailey (DHH), também conhecida como pênfigo familiar benigno, é uma genodermatose autossômica dominante, com penetrância variável, rara descrita pela primeira vez em 1939 pelos irmãos Hailey. A DHH é caracterizada pela adesão prejudicada dos queratinócitos, resultando em acantólise intraepidérmica generalizada, não-cicatricial, caracterizada por erosões, bolhas e fissuras em áreas intertriginosas.

Etiopatogenia. Mutações no gene ATP2C1 (cromossomo 3q21-24) levam à disfunção da bomba de cálcio no retículo de Golgi, afetando a homeostase do cálcio intracelular e a adesão entre os queratinócitos. Estudos recentes destacam o papel do estresse oxidativo e da inflamação na piora dos sintomas, sugerindo que fatores ambientais, como infecções, calor, umidade e trauma, podem desencadear ou exacerbar as lesões.
Isto impede o processamento completo de proteínas essenciais à adesão dos ceratinócitos como as caderinas, o que determina ruptura desmossomal e acantólise suprabasal. O conteúdo de Cálcio nos ceratinócitos basais é menor do que na pele normal e a transição da queratina 14 para a 10 está alterada. Diminuição no número de desmossomos tem sido implicado na patogênese do Hailey-Hailey.

Manifestações clínicas. As lesões tem início na segunda ou quarta décadas, desenvolvendo-se em áreas de exposição ao sol como nuca e dorso e em áreas sujeitas à fricção e maceração como virilhas, axilas e áreas submamárias em mulheres. Vesículas flácidas surgem sobre pele eritematosa ou normal, expandindo-se para produzir uma borda circinada. Ao se romperem determinam erosões maceradas, fissuradas ou crostosas. Odor fétido e prurido interferem na vida social do paciente. Lesões vegetantes intertriginosas podem ser idênticas às do pênfigo vegetante. A exacerbação e persistência da doença pode se dever à infecções bacterianas, fúngicas e virais, particularmente pelo vírus do herpes simples que pode determinar uma erupção variceliforme de Kaposi. Leuconíquias longitudinais estão presentes em 71% dos pacientes.

Diagnóstico. O diagnóstico é baseado na história clínica, exame físico e confirmação histopatológica. A biópsia cutânea mostra acantólise (perda de adesão entre os queratinócitos) na epiderme, semelhante ao pênfigo, mas com menor intensidade. A histopatologia mostra vesículas intraepidérmicas suprabasais com células acantolíticas. É característico o aspecto de muro de tijolo dilapidado. Podem ser vistos poucos corpos redondos e grãos, típicos da doença de Darier. A doença de Hailey-Hailey apresenta acantólise em toda a espessura da epiderme com hiperplasia epidérmica e escamas impetiginadas. A acantólise não se estende às partes profundas do folículo como no pênfigo vulgar. A imunofluorescência direta é negativa, excluindo o pênfigo vulgar. Testes genéticos para identificar mutações no gene ATP2C1 podem ser úteis para confirmar o diagnóstico, especialmente em casos atípicos.

Tratamento. O manejo da doença de Hailey-Hailey é desafiador e focado no controle dos sintomas e na prevenção de exacerbações. As abordagens incluem:

Cuidados Gerais: Evitar fatores desencadeantes, como calor, umidade e trauma. Manter a pele seca e usar roupas leves e não aderentes.

Tratamentos Tópicos:
Corticosteroides tópicos para reduzir a inflamação.
Antibióticos ou antifúngicos tópicos para tratar infecções secundárias.
Inibidores da calcineurina (tacrolimo ou pimecrolimo) como alternativa aos corticosteroides.
Recentemente, o uso de toxina botulínica tópica tem sido explorado para reduzir a sudorese e melhorar as lesões em áreas de dobras. Considerando que tanto a naltrexona quanto naloxona são antagonistas dos receptores opioides ambos podem ser usados no tratamento da DHH por infusão intravenosa.

Tratamentos Sistêmicos:
Antibióticos orais (como tetraciclinas) para controle de infecções e efeito anti-inflamatório.
Retinoides orais (acitretina) para modular a proliferação e diferenciação dos queratinócitos.
Imunossupressores (como corticosteroides orais, ciclosporina ou metotrexato) em casos graves.
Terapias Biológicas:
Relatos recentes sugerem benefício do uso de inibidores de TNF-α (como adalimumabe) e inibidores de IL-17 (como secuquinumabe) em casos refratários.

Terapias com Laser e Cirúrgicas:
Laser de CO2 fracionado ou ablativo para remover áreas afetadas e promover a cicatrização.
Cirurgia para remover áreas cronicamente afetadas, seguida de enxerto de pele.

Pesquisas Recentes:
Estudos estão investigando o papel de novas terapias genéticas, como a edição de genes com CRISPR/Cas9, para corrigir mutações no gene ATP2C1.
Pesquisas sobre o uso de antioxidantes e moduladores da inflamação estão em andamento para abordar o estresse oxidativo e a resposta inflamatória exacerbada.

Apoio ao Paciente:
A doença de Hailey-Hailey pode ter um impacto significativo na qualidade de vida devido à dor, desconforto e constrangimento social. O suporte psicológico e o acompanhamento dermatológico regular são essenciais.

Perspectivas Futuras:
A compreensão dos mecanismos moleculares da doença está abrindo caminho para terapias mais direcionadas e eficazes. Novos tratamentos, como terapias biológicas e genéticas, podem revolucionar o manejo da doença de Hailey-Hailey nos próximos anos.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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