Doença de Ledderhose
16/02/2025
A doença de Ledderhose ou fibromatose plantar é uma doença hiperproliferativa rara da aponeurose plantar, de difícil tratamento, definida por nódulos de crescimento gradual na parte central medial da fáscia plantar, com possibilidade de esclerose e encolhimento de toda a fáscia ou, raramente, contraturas dos dedos dos pés.
A doença foi descrita pela primeira vez pelo cirurgião alemão Georg Ledderhose no final do século XIX. Bem como a doença de Dupuytren, a qual ocorre nas mãos e apresenta uma prevalência maior do que Ledderhose, essa patologia pode evoluir para contratura dos dedos dos pés. De acordo com um estudo realizado no norte da Holanda, cerca de 20% dos pacientes que possuem a doença de Dupuytren apresentam a fibromatose plantar concomitante.
Etiologia. É de suma importância destacar que a etiologia exata da doença de Ledderhose ainda é desconhecida. Nota-se que na maioria dos casos existe uma predisposição hereditária, mas também se verifica a influência de alguns fatores estimulantes como tabagismo, epilepsia, trauma, uso abusivo de álcool, diabetes mellitus, uso de anticonvulsivantes, ombro congelado, doença hepática e exposição a vibrações.
Fisiopatologia e manifestações clínicas. Primordialmente, observa-se que a doença de Ledderhose possui uma manifestação histológica similar à da doença de Dupuytren. Essa, por sua vez, envolve proliferação de fibroblastos e deposição de colágeno que, na doença de Ledderhose, ocorre na face plantar e forma nódulos palpáveis. A relação fisiopatológica com os fatores estimulantes anteriormente mencionados se dá da seguinte forma: os radicais livres levam à proliferação de fibroblastos, que se diferenciam em miofibroblastos, resultando em aumento do colágeno tipo III, que substitui o colágeno tipo I normal, e em produção de numerosas citocinas. Apesar de benigna, as manifestações locais podem ser agressivas e marcadas por muita dor, levando a deformidades debilitantes e contraturas dos dedos dos pés. Existe um risco aumentado de artrofibrose em pacientes submetidos à artroplastia total do joelho com diagnóstico de Contratura de Ledderhose.
Diagnóstico. O diagnóstico da doença de Ledderhose é essencialmente clínico, com exame físico e acompanhamento da rigidez dos nódulos plantares. Essa evolução é caraterizada pelo aparecimento de nódulos subcutâneos localizados na região medial do arco plantar, numa fase inicial indolores, seguida de aumento de tamanho e aparecimento de dor numa fase posterior com perturbação da marcha. A ultrassonografia e a ressonância magnética (RM) são usadas para confirmar o diagnóstico e eliminar outros distúrbios. A RM é um método não invasivo, que possibilita a visualização de lesões superficiais, bem ou mal definidas, ao longo da aponeurose plantar, as quais se podem misturar com a musculatura plantar adjacente.
Tratamento. O tratamento da doença de Ledderhose vai variar de acordo com a gravidade do quadro. Atualmente, existem atenuadores como dispositivos ortopédicos acomodativos para casos mais leves que ajudam, mas não curam a doença. Existem outras formas de tratar, como injeções de esteroides, verapamil, imatinibe, radioterapia, terapia extracorpórea por ondas de choque, tamoxifeno, sorafenibe, mitomicina C e colagenase, fisioterapia e redução de peso. É válida também a possibilidade de tratamento por radioterapia nos estágios iniciais da doença, com o intuito de evitar a proliferação dos fibroblastos. Essa também é utilizada no pós-operatório para diminuir a recorrência da doença. O tratamento cirúrgico está indicado nos casos de dor persistente, lesões grandes e infiltrativas que são refratárias ao tratamento conservador. O procedimento standard inclui uma fasciectomia parcial da aponeurose plantar. O tratamento cirúrgico com excisão simples tem uma taxa de recorrência local (20-40%), com a maioria das lesões a reaparecer no primeiro ano pós cirurgia.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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