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Acantose nigricante

09/01/2025

Refere-se a um padrão de reação inespecífica caracterizado por hiperqueratose e hiperpigmentação, principalmente em áreas de dobras. É uma dermatose caracterizada por placas simétricas, aveludadas, hiperpigmentadas e verrucosas das superfícies intertriginosas das regiões axilar, cervical, inframamária e mucocutânea, relacionadas a alguma neoplasia maligna. Acantose nigricante(AN) foi descrita pela primeira vez em 1890 por Santi Unna e Monatsh Pollitzer. Etiopatogenia/Epidemiologia. Há formas benignas de acantose, chamadas de pseudoacantose, relacionadas à obesidade, alterações endócrinas, diabetes e uso de medicações. É válido ressaltar, ainda, o caráter hereditário da doença.

Nessa seção falaremos da forma clássica de acantose nigricante relacionada a malignidade. As principais neoplasias relacionadas são os adenocarcinomas gastrointestinais, representando 70 a 90% dos casos, em especial o adenocarcinoma gástrico (60%) . Salienta-se também a ocorrência diante de hepatocarcinomas. Neoplasias de pulmão, mama, próstata, rins, tireoide, dentre outros aparecem em menor grau. As citocinas e fatores de crescimento alfa (TGF alpha) produzidos pelo tumor estimulariam a proliferação dos queratinócitos epidérmicos e a proliferação dérmica de fibroblastos, que juntos determinariam o surgimento da acantose, classificada como uma manifestação paraneoplásica.

Quadro clínico: Caracteriza-se pelo surgimento rápido e exuberante de placas hiperceratósicas, acastanhadas, de superfície aveludada, predominante em dobras, mas que podem extender-se para todo corpo, inclusive mucosas. Pode haver espessamento palmo-plantar e prurido é comum. Aproximadamente 25% dos pacientes com acantose maligna apresentam envolvimento palmo-plantar conhecido como “tripe palms”, que usualmente vem associado ao desenvolvimento súbito de ceratoses seborreicas (Sinal de Leser Trelát). Alguns autores sugerem que os “Tripe Palms” tratam-se de uma forma particular de acantose, caracterizada pelo espessamento palmo-plantar com proeminência das cristas epidérmicas das mãos (dermatoglíficas), assemelhando-se às vilosidades intestinais.

Pode ser classificada em 8 tipos:
I. Associada à obesidade – Mais comum; ligada ao Diabetes mellitus tipo 2, resistência à insulina, índice de massa corporal (IMC) elevado, Síndrome metabólica e Síndrome do ovário policístico (SOP).

II. Síndrome paraneoplásica cutânea / associada a malignidade – Mais comumente associada ao Câncer gástrico, mas inúmeras outras malignidades foram relatadas. Pacientes idosos não obesos com nova AN devem ter malignidade considerada como causa. Distribuições atípicas (palmar, perioral ou mucosa) ou AN de início agudo podem estar mais associadas à malignidade.

III. Induzida por medicamentos – A niacina (ácido nicotínico) é o medicamento mais associado, mas a AN também pode ser causada por contraceptivos orais, corticosteroides, dietilestilbestrol, heroína, ácido fusídico, metiltestosterona, inibidores de protease e folato.

IIII. Sindrômico – Tipo A refere-se a pacientes com síndrome HAIR-AN (hiperandrogenismo, resistência à insulina e acantose nigricans) e acromegalia. O tipo B é tipicamente observado em mulheres com diabetes mellitus não controlada e doenças autoimunes (lúpus eritematoso sistêmico, esclerodermia, síndrome de Sjögren e tireoidite de Hashimoto). Este tipo está associado à formação de anticorpos contra receptores de insulina.

V. Acral – Afeta cotovelos, joelhos e nós dos dedos. Normalmente visto em africanos subsaarianos saudáveis.

VI. Unilateral – Também chamado de nevoide. Geralmente representa um Nevo epidérmico queratinocítico na infância.

VII. Benigno – Tipo autossômico dominante raro que se desenvolve no nascimento ou durante a infância.

VIII. Misto – Quaisquer 2 ou mais dos tipos acima combinados.

Outras endocrinopatias relacionadas incluem hipogonadismo hipofisário, doença da tireoide, Doença de Addison e Acromegalia.

O aparecimento pode ser concomitante à neoplasia, antes ou após seu surgimento. Ao contrário dos casos de pseudoacantose, em que o avanço do quadro se dá ao longo de anos, a evolução da acantose maligna é rápida e extensa. Mas pode também, ser clinicamente indistinguível da pseudoacantose. O diagnóstico é clínico e a histopatologia pode ser confirmatória, evidenciando hiperqueratose e papilomatose, com mínima ou ausência de acantose e hiperpigmentação.

O principal diagnóstico diferencial são os casos de pseudoacantose relacionados à obesidade e alterações endócrinas. Bioquímica completa e perfil hormonal devem ser solicitados a fim de excluir o problema. Deve haver sempre suspeita de acantose nigricante relacionada a malignidade em pacientes adultos que desenvolvem a doença e não apresentam sobrepeso. Papilomatose confluente Gougerot e Carteaud, Doença de Darrier, Síndrome de Miescher, amiloidose, estão entre os diagnósticos diferenciais. Tratamento. Baseia-se no tratamento da neoplasia de base, o que costuma regredir a acantose, pois a secreção do TGF alpha é suspensa após a retirada do tumor. A Ciproheptadina parece inibir a secreção tumoral e os psoralênicos podem ser usados para os casos sintomáticos. Alguns lasers como o CO2 fracionado, 1550-nm erbium e long-pulsed alexandrite laser podem ser de ajuda no tratamento.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. Acanthosis nigricans in the pediatric population: a narrative review of the current approach to management in primary care. Samara Pollock, Meghana Rajashekara Swamy, Elise Schlissel Tremblay, Lisa Shen. Pediatr Med. Author manuscript; available in PMC 2023 Nov 28.

2. Tripe palms associated with malignant acanthosis nigricans in a patient with gastric adenocarcinoma: a case report and review of the literature. Caterina Fabroni 1 , Antonia Gimma, Carla Cardinali, Giovanni Lo Scocco. Dermatol Online J. 2012 Nov 15;18(11):15.

3. Efficacy and safety of lasers versus topical medications for acanthosis nigricans and pseudo-acanthosis nigricans treatment: a systematic review. Yekta Ghane. Lasers Med Sci. 2024 Jan 23;39(1):44.

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5. Malignant acanthosis nigricans: an early diagnostic clue for gastric adenocarcinoma. Yu Q, et al. World J Surg Oncol. 2017. PMID: 29178944.

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